quarta-feira, 30 de junho de 2021

 ROMARIA FESTA DE FÉ E RESISTÊNCIA

PROMESSEIROS PERCORREM TODOS OS ANOS, NO PERÍODO DO CÍRIO, 79 QUILÔMETROS A PÉ ATÉ A BASÍLICA SANTUÁRIO

Há 40 anos um grupo de romeiros de Castanhal compõe uma romaria que tem Belém como destino. É uma procissão que se estende por 79 quilômetros ao longo de 24 horas, com algumas pausas. O percurso percorrido anualmente é alusivo ao Círio de Nazaré e que testa a fé e a resistência dos participantes. A romaria é considerada patrimônio histórico e cultural da Cidade Modelo e do Estado. A cada ano, a estrutura e número de participantes aumentam. Nesta edição, sairão na quarta-feira, 10, e chegarão no dia seguinte.

Com cerca de mil participantes atualmente e vários carros de apoio e serviço a romaria se distancia das primeiras edições, quando havia pouco mais de 20 participantes. Inicialmente eram apenas alguns familiares e conhecidos de Zé Bode. Por anos, ele e a penosa promessa foram os ícones da romaria. A cada ano, a empreitada ganhava simpatizantes e participantes que eram conquistados pelo esforço daquele grupo.

Zé Bode, que morreu em 2015, era um homem humilde e de muita fé. Fez uma promessa de que se conseguisse comprar a casa e alcançar a cura do seu filho, carregaria uma cruz de madeira de sete quilos por sete anos. A cada ano, o peso da Cruz aumentaria; a promessa chegou a pesar 20 quilos, mas ele persistia, tornando-se referência entre os romeiros que davam sinais de desistência.

Quando falta fé ou energia, os romeiros mais experientes lançam mão de uma imagem da Virgem de Nazaré em um colar. Aquele participante que está próximo de desistir é desafiado a seguir e entregar a imagem somente na chegada à Basílica Santuário, em Belém. “O esforço é sobrenatural. Em algumas pessoas que chegam ao final se vê que uma força ajudou”, diz Renato Freire, empresário e coordenador do Terço dos Homens.

 COLAR

Uma das historias mais conhecidas da imagem da Virgem no colar é de um rapaz que participava da romaria com uma ferida na perna e muita dor. Perto da estrada de Mosqueiro, às 2 horas, ele disse que queria desistir. Um dos coordenadores da romaria, professor Jose Nazareno Abraçado, então pegou a imagem no colar com Zé Bode (ainda vivo na ocasião). “Só perguntei: ‘você tem fé?’. Coloquei o colar nele e disse: ‘vai seguindo. Só me devolve esse colar na Basílica’”, lembrou Nazareno. O jovem ainda sentia dor, mas seguiu o trajeto. Na Basílica, ele tocou nas costas de Nazareno e disse: “Professor, consegui”.

Hoje o evento se chama Romaria Castanhal-Belém, mas nas camisas dos participantes a homenagem a um dos fundadores permanece viva: “Grupo do Zé Bode”. Pela quantidade de pessoas, uma estrutura foi se tornando necessária. Agora há carros de apoio, água, alimentação, primeiro socorros, bagagem, som, massagem e de ajuda para quem ficou para trás. Somam-se aos carros da Policia Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros Militares, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) e Polícia Militar.

RISCOS

Pelo apoio dessas instituições é que os riscos de enfrentar a rodovia BR-316, durante a noite e madrugada, tornaram-se menores. Era mais perigoso quando tantos órgãos de segurança não acompanhavam e davam tranquilidade. Atualmente, o desafio maior é conseguir o retorno dos romeiros. Mas percorrer a pé uma rodovia com alguns dos trechos mais perigosos do Brasil, sempre será arriscado.

O grupo também conquistou a simpatia e carinho de pessoas, instituições e empresários ao longo do caminho. Uma churrascaria oferece o almoço e a PRF oferece o jantar. Postos de gasolina dão os banheiros limpos e homenagens com balões e fogos. Uma das sete paradas do trajeto, considerada uma das mais importantes, é no Hospital Ophir Loyola, onde os romeiros fazem doações para os internados. Alguns moradores da área até esperam pela romaria porque veem como a fé pura manifestada. De longe se vê a romaria chegar, pois 0 terço gigante sendo carregado é um destaque. Mais uma promessa que se consolidou em tradição.

O trajeto começa na pra São José, em Castanhal. Na saída são cerca de 700 pessoas. No caminho vão agregando pessoas ou grupos inteiros, chegando aos mil participantes ou mais. O final do percurso é na Basílica. Lá, os romeiros assistem à missa e então buscam o acolhimento da Casa de Plácido. Os romeiros pedem que a população ajude a Casa com doações, já que os estoques estão baixos para atender 65 mil pessoas e servir 55 mil refeições.

 

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