ROMARIA FESTA DE FÉ E RESISTÊNCIA
PROMESSEIROS PERCORREM TODOS OS ANOS, NO
PERÍODO DO CÍRIO, 79 QUILÔMETROS A PÉ ATÉ A BASÍLICA SANTUÁRIO
Há 40
anos um grupo de romeiros de Castanhal compõe uma romaria que tem Belém como
destino. É uma procissão que se estende por 79 quilômetros ao longo de 24
horas, com algumas pausas. O percurso percorrido anualmente é alusivo ao Círio
de Nazaré e que testa a fé e a resistência dos participantes. A romaria é
considerada patrimônio histórico e cultural da Cidade Modelo e do Estado. A cada
ano, a estrutura e número de participantes aumentam. Nesta edição, sairão na quarta-feira,
10, e chegarão no dia seguinte.
Com cerca
de mil participantes atualmente e vários carros de apoio e serviço a romaria se
distancia das primeiras edições, quando havia pouco mais de 20 participantes. Inicialmente
eram apenas alguns familiares e conhecidos de Zé Bode. Por anos, ele e a penosa
promessa foram os ícones da romaria. A cada ano, a empreitada ganhava
simpatizantes e participantes que eram conquistados pelo esforço daquele grupo.
Zé Bode,
que morreu em 2015, era um homem humilde e de muita fé. Fez uma promessa de que
se conseguisse comprar a casa e alcançar a cura do seu filho, carregaria uma
cruz de madeira de sete quilos por sete anos. A cada ano, o peso da Cruz aumentaria;
a promessa chegou a pesar 20 quilos, mas ele persistia, tornando-se referência
entre os romeiros que davam sinais de desistência.
Quando falta
fé ou energia, os romeiros mais experientes lançam mão de uma imagem da Virgem
de Nazaré em um colar. Aquele participante que está próximo de desistir é
desafiado a seguir e entregar a imagem somente na chegada à Basílica Santuário,
em Belém. “O esforço é sobrenatural. Em algumas pessoas que chegam ao final se vê
que uma força ajudou”, diz Renato Freire, empresário e coordenador do Terço dos
Homens.
COLAR
Uma das
historias mais conhecidas da imagem da Virgem no colar é de um rapaz que
participava da romaria com uma ferida na perna e muita dor. Perto da estrada de
Mosqueiro, às 2 horas, ele disse que queria desistir. Um dos coordenadores da
romaria, professor Jose Nazareno Abraçado, então pegou a imagem no colar com Zé
Bode (ainda vivo na ocasião). “Só perguntei: ‘você tem fé?’. Coloquei o colar
nele e disse: ‘vai seguindo. Só me devolve esse colar na Basílica’”, lembrou Nazareno.
O jovem ainda sentia dor, mas seguiu o trajeto. Na Basílica, ele tocou nas
costas de Nazareno e disse: “Professor, consegui”.
Hoje o
evento se chama Romaria Castanhal-Belém, mas nas camisas dos participantes a
homenagem a um dos fundadores permanece viva: “Grupo do Zé Bode”. Pela quantidade
de pessoas, uma estrutura foi se tornando necessária. Agora há carros de apoio,
água, alimentação, primeiro socorros, bagagem, som, massagem e de ajuda para
quem ficou para trás. Somam-se aos carros da Policia Rodoviária Federal, Corpo
de Bombeiros Militares, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) e
Polícia Militar.
RISCOS
Pelo
apoio dessas instituições é que os riscos de enfrentar a rodovia BR-316, durante
a noite e madrugada, tornaram-se menores. Era mais perigoso quando tantos órgãos
de segurança não acompanhavam e davam tranquilidade. Atualmente, o desafio maior
é conseguir o retorno dos romeiros. Mas percorrer a pé uma rodovia com alguns
dos trechos mais perigosos do Brasil, sempre será arriscado.
O grupo
também conquistou a simpatia e carinho de pessoas, instituições e empresários ao
longo do caminho. Uma churrascaria oferece o almoço e a PRF oferece o jantar. Postos
de gasolina dão os banheiros limpos e homenagens com balões e fogos. Uma das
sete paradas do trajeto, considerada uma das mais importantes, é no Hospital
Ophir Loyola, onde os romeiros fazem doações para os internados. Alguns moradores
da área até esperam pela romaria porque veem como a fé pura manifestada. De longe
se vê a romaria chegar, pois 0 terço gigante sendo carregado é um destaque. Mais
uma promessa que se consolidou em tradição.
O trajeto
começa na pra São José, em Castanhal. Na saída são cerca de 700 pessoas. No caminho
vão agregando pessoas ou grupos inteiros, chegando aos mil participantes ou
mais. O final do percurso é na Basílica. Lá, os romeiros assistem à missa e então
buscam o acolhimento da Casa de Plácido. Os romeiros pedem que a população ajude
a Casa com doações, já que os estoques estão baixos para atender 65 mil pessoas
e servir 55 mil refeições.
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